8.4.08

LIÇÃO 6 - COMPETÊNCIA É UMA DECISÃO PESSOAL

INTRODUÇÃO
José é um profissional dedicado. Trabalhador, como se diz por aí. Levanta-se cedo e segue para o trabalho, subindo e descendo de ônibus diversos. “Boa praça”, sempre está disponível para um bate-papo e uma cerveja gelada com os amigos. Modesto em seus trajes, simples em seu vocabulário, sua abordagem está calcada em seu carisma, mais do que em seu conhecimento. Faltam-lhe respostas, sobram-lhe dúvidas. Chega tarde em casa, cansado, quase sem tempo para sua família. Ganha o suficiente para mantê-la com dignidade, mas a dificuldade está presente em sua vida. Porém, acredita que “com a ajuda de Deus, as coisas vão melhorar”.
João é um profissional igualmente dedicado. Bem sucedido, como se diz por aí. Levanta-se e com tranqüilidade toma seu café da manhã na presença da esposa e filhos. Leva-os à escola, em seu carro recém adquirido, saindo em visita aos seus clientes e fornecedores, previamente agendados. Carrega em seu notebook amplas informações sobre sua empresa, apenas para uma eventual consulta. Seus contatos contemplam a objetividade inerente aos negócios associada à descontração do diálogo sobre os mais variados assuntos, de política e futebol aos acontecimentos da novela na noite anterior. Em casa, janta em companhia da família, auxilia as crianças nos deveres escolares e planeja com a companheira o roteiro da próxima viagem de férias.

Um olhar sobre dois homens que podem guardar consigo apenas a similaridade de suas profissões. Duas versões da vida delineadas por caminhos opostos traçados por um único aspecto: competência.

À luz dos estudos do psicólogo de Harvard, David McClelland, apresento a seguir duas características inerentes ao comportamento de um profissional de destaque, diferenciado ante a “linha de montagem” comoditizada pelo mercado de trabalho a partir dos anos noventa.

1. Iniciativa e Acabativa
“Antes de iniciares a tarefa de mudar o mundo,dá três voltas na tua própria casa.” (Provérbio chinês)

Representa a capacidade de identificar e buscar oportunidades de negócios. Está associada ao comportamento proativo e, por conseguinte, em oposição imediata à hesitação (será mesmo que devo fazer?) e à procrastinação (será que posso fazer amanhã?).
O profissional dotado de iniciativa antecipa-se aos fatos, realizando atividades antes de ser solicitado ou forçado pelas circunstâncias. Conjuga os verbos “fazer”, “agir” e “executar”. Também sabe retirar-se de um negócio em decadência no momento certo, preservando os ganhos auferidos ou minimizando as perdas.
Por estar conectado com o mundo e sempre municiado de informações, aproveita situações conjunturais para atender com rapidez novas demandas ou nichos. E, como pioneiro, obtém resultados concretos e mais significativos antes dos demais. Surpreende, empolga, contagia e encanta.
Porém, a iniciativa hoje não viceja sozinha, mas deve estar acompanhada de seu par, a acabativa, neologismo para simbolizar a habilidade de finalizar tarefas iniciadas. Muitos são aqueles que iniciam atividades e que não as concluem. Projetos arquivados, livros lidos pela metade, conversas interrompidas sem conclusão, sonhos de toda uma vida abandonados como se fossem de uma única noite de verão.
Iniciar é preciso. Mas algo só termina, quando acaba.



2. Eficiência e Eficácia

“Se respeitar as pessoas como elas são, você poderá ser mais eficaz ajudando-as a se aperfeiçoarem.”
(John Gardner)

A eficiência pode ser definida como “fazer certo as coisas”. Está associada ao respeito às normas e padrões estabelecidos, à satisfação e à superação de expectativas. Um profissional com esta característica desenvolve maneiras de realizar uma atividade com menor custo e maior rapidez e qualidade superior. Seu oposto atende pelo nome de retrabalho, motivo pelo qual a eficiência implica fazer certo da primeira vez.

A eficácia, por sua vez, significa “fazer a coisa certa”. É uma medida vinculada ao resultado. Assim, um vendedor pode visitar uma dezena de clientes num dia, mostrando-se muito eficiente. Porém, se não fechar negócio algum, terá sido ineficaz.

As organizações costumam estimular a busca da eficiência por um processo mecânico e protocolar: pesquisas efetuadas, tabulações processadas e relatórios preenchidos passam a impressão de que o trabalho foi feito. É comum vermos líderes (ou seriam pseudo-líderes?) que solicitam aos membros de sua equipe informações variadas apenas para ocupar-lhes o tempo, sendo que o fruto daquele trabalho alimentará apenas pastas suspensas e arquivos mortos.

Já a eficácia, quando tomada isoladamente e como único fim, gera o que poderíamos cunhar como “Síndrome de Romário”, ou seja, pessoas com foco exclusivo no objetivo e sem qualquer atenção para com os processos. De fato, conseguem auferir resultado com impacto positivo nas estatísticas, mas muitas vezes o fazem combalindo o ambiente interno.

Procure, portanto, unir eficiência e eficácia. Conceda valor e conteúdo ao seu trabalho, adote os procedimentos necessários, defina indicadores adequados para mensuração e tenha foco no resultado. Mas lembre-se sempre de que há pessoas compartilhando de suas atividades e decisões em sua organização.